É aqui que eu sou.

Photo by Erol Ahmed on Unsplash

Comprei três cactos pequenininhos. Mesmo preço, mesmo mini vaso, mas de modelos diferentes. Coloquei-os na estante da sala, com bastante luz, como mandavam as instruções.

Com água e amor, as plantinhas foram crescendo. Todas menos uma. O cacto das flores rosinhas parecia mais abatido a cada semana. Eu via o esforço dos ramos tentando chegar mais longe, mas brotos morriam rapidamente.

Mesma luz, mesmo carinho. Enquanto os outros floresciam, esse meio que descascava. Quando decidimos mudar de cidade, os cactos vieram junto. Sem estante no novo apartamento, coloquei-os no meu criado mudo, longe da janela.

A claridade de Sydney foi substuida pelo infinito mormaço de Melbourne. Inverno. Sombra. Noite. Meus dois cactos mais fortes não gostaram da mudança e pararam de crescer. Já o rosa, que sempre me preocupou, resolveu se revelar.

Lançou suas flores na cor certa.

Cresceu folhas gorduchinhas.

Curou-se das casquinhas e me disse, sem palavras, é aqui que eu sou. 

Ontem, numa conversa com o meu irmão, eu lembrei do cacto. É tentador querer ignorar a nossa natureza e pensar que o que a gente precisa é parecido com o que os outros têm. Ao meu ver, essa perspectiva pode ser uma ilusão.

Se os cactos, simples como são, têm seus próprios critérios, imagina a uma pessoa, com vontades e raízes tão mais profundas?

Talvez seja benéfico para a nossa própria sanidade substituir a angústia do “Por que eu não cresço aqui?” pela liberdade de simplesmente reconhecer as nossas limitações e seguir em busca de terrenos mais férteis.

Há frutas que nascem na beira da estrada.

Há flores que precisam de estufa.

Há árvores que se fortalecem ao brigar com o vento.

Um dente de leão se desmancha para reviver lá longe.

Temos poderes diferentes. Que tenhamos paciência para encontrar as nossas forças e alcançar a grandiosidade dentro dos nossos termos (ou dos nossos vasinhos : )

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