– E a festa?
– Não curti muito. Voltei pra casa antes das duas da manhã.
Mas estava boa sim, teve atropelamento e tudo…
– Engraçadinho você….
– E você? Ficou braba comigo, se acabou no sertanejo e
voltou louca para me contar, né??
– Não exagera : )
– Fala aí…
– Você e o seu “tem que deixar rolar”…
Chato.
– Chato é ficar sem você.
A frase era sincera. Era chato ficar sem ela. Queria encontrá-la
agora mesmo na esquina entre o pescoço e o ombro
e beijá-la bem mansinho. Do outro lado da tela,
ela sorriu tranquila e se esticou um pouco,
reparou as pernas vermelhas, o notebook quente no colo.
Continuaram a conversa e é uma pena que não possam se encontrar.
Existem paredes de concreto e algumas cidades entre eles.
Vivem toda a falta e toda a vontade sem que se escute um suspiro,
ignoram mutuamente a suavidade do toque
e o mover das sobrancelhas.
Usam tantas palavras que chegam a ter a impressão
de que se falam o dia todo. Mal percebem que nenhuma
chega a ser articulada, que os comentários são entregues
sem volume ou entonação.
As emoções estão simplificadas.
Dois pontos e parêntesis para demonstrar carinho;
espanto ou felicidade viraram pontos de exclamação;
as interrogações se multiplicam conforme
a curiosidade ou impaciência da pergunta.
Todos os dias, o círculo verde ao lado do nome
faz com que se sintam mais próximos.
É como se chegasse uma visita,
embora a porta do apartamento esteja sempre trancada.
O ano é 2013.
Ultimamente, fala-se muito em silêncio.