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Quantas vezes eu te imaginei na minha porta.
Você estaria sentado no meio-fio, apoiando os cotovelos no joelho,
muito provavelmente fumando um cigarro.
Você me esperaria de cabeça baixa,
como quem pesquisa alguma novidade nas ranhuras da calçada
ou se entretém com o plástico duro na ponta do cadarço.
Eu chegaria e de longe reconheceria a tua sombra,
teu jeito de tirar o cabelo do olho como quem pede licença.
A alegria viria misturada de surpresa
e eu daria os próximos passos tentando me prevenir
da felicidade que me avança quando lembro de ti.
“Não é ele.”
Repetiria para mim sem pressa de confirmação,
na tentativa de fazer aquele fiapo de esperança durar mais um pouco.
“Não é ele.”
E reconheceria o ângulo do teu pescoço e a proporção dos teus braços.
“Não é ele.”
E chegaria mais perto.
Mais perto.
Mais perto.
Do teu lado.
Você nota a minha presença e tira os fones de ouvido.
Ri como se não tivesse planejado o próximo passo.
Eu seguro em ti e me agacho, levo a minha cabeça em direção a tua.
Enxergo teu olho de perto.
Finalmente, estamos na mesma altura.
No mesmo tempo.
Ocupando no universo o mesmo metro quadrado.
Te abraçaria emocionada e agradeceria quieta.
Agora sim está tudo bem.