É preciso mais do que pescoço para prender minha cabeça no meu corpo. É preciso que algo me surpreenda, que me chame atenção. A partir do momento em que a sala escurece e a voz do professor narra o que está escrito nos slides, minha mente começa a se despedir de mim. “Será que eu devo almoçar com o Marcelo?” “Tenho que achar uma sandália preta. Tem um casamento no final de semana” E por aí vai. Quando olho para frente, a boca do professor abre e fecha e eu não tenho a menor idéia sobre o que ele possa estar falando.
Reparo então nos meus colegas. Uma tenta puxar a cutícula do dedo indicador com a boca, outra inspeciona cuidadosamente as pontas duplas do cabelo, a que senta ao meu lado me cutuca e sussurra “Guria, são onze horas ainda…”Isso sem contar os que mexem no celular e balançam os pés. Definitivamente, meu problema não é um caso isolado. Chego à conclusão que talvez essa dificuldade de concentração seja menos um traço da minha personalidade e mais uma deficiência de determinados professores no cumprimento da função que lhes garante o pão e o cafezinho.
Ensinar não é para qualquer um. Não basta só entender do assunto, tem que saber e querer transmitir. No curso de Jornalismo da UFSC, alguns professores deixaram de ser aquele que ensina para ser aquele que faz a chamada, coloca meia dúzia de livros no xérox, prepara uma apresentação de Power Point, passa alguns conceitos nas primeiras aulas e divide o resto do semestre em cômodos, mas insuportáveis, seminários.
Os seminários são a escolha preferencial dos preguiçosos. Os professores viram alunos e os alunos tentam explicar o pouco que eles entenderam do texto. Não de todo o texto, daquelas 20 páginas que eram a “sua parte”. Sem experiência nenhuma no assunto e didática zero, o que poderia ser uma parte da metodologia de ensino passa a ser um método de tortura para os demais colegas. Os comentários dos docentes são, por vezes, medíocres e se limitam a repetir com palavras um pouco menos comuns o que o grupo acabou de dizer. Quando muito.
Será que pensam que a gente não nota que certos professores faltam mais do que os alunos relapsos? Será que acham que a gente não percebe quando assiste a uma aula enjambrada? Será que eles não veem o quanto incomoda quando um doutor nos exige que façamos algo que nem ele sabe fazer, sem ter a menor noção da complexidade e do tempo necessário para o trabalho?
Eu queria deixar claro que eu percebo. E olha que sou uma aluna mediana. Não copio tudo, chego sempre alguns minutos atrasada e, muitas vezes, não leio o que estava previsto. Estou consciente que a minha desorganização prejudica meu desempenho acadêmico e sou responsável por isso. Mas pelo menos tenho o consolo de que a minha desatenção atinge apenas a mim. Os maus educadores não têm essa justificativa. O descaso deles desestimula uma sala inteira.
E isso que sou uma aluna média. Imaginem o que os bons pensam de vocês…
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PS: Do mesmo modo como tive professores lastimáveis, tive também professores muito empenhados e que influenciaram positivamente não só a minha vida acadêmica, quanto pessoal. Que recomendaram bons livros, que me atenderam com atenção, que me sugeriram diversas saídas para solucionar uma dúvida. Guardo seus ensinamentos com todo o respeito, carinho e consideração e agradeço por terem deixado o exemplo do profissional com que quero parecer.