Ilusões de supermercado

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Almocei em um restaurante ótimo. Diferente do costume, esse era bem natural. Enquanto experimentava saladas coloridas com sabores refrescantes, recebi a visita de uma velha ilusão. Imaginei a mim mesma abrindo a geladeira. Depois de poucos segundos de claridade, vejo pilhas de potinhos de frutas e vegetais lavados e picados em tapperwares com tampa. Como sempre, a fantasia foi longe: aboliria o glúten, faria pratos elaborados, teria porções diversas esperando no congelador. 

Todo plano, enquanto plano, parece fácil. Na prática, sei que a realização nunca passa da geladeira. É lá, na escuridão da última gaveta, que as folhas de alface murcham na esperança de preparo imediato e onde as inocentes abobrinhas são substituídas por pipoca, Doritos ou iogurte natural. Sofrem com o mesmo descaso a beringela e a batata doce, que amargam minha indiferença até o dia do “se não comer, vai estragar”.

Hortaliças só aumentam o meu remorso. Ao jogar na lixeira aqueles maços para dez pessoas, sou eu quem preciso assumir meus podres: tenho preguiça de lavar, de descascar, sou incapaz de picar qualquer coisa em pedaços grandes ou pequenos, pois trabalho apenas com tamanhos variados: grandes, médios, pequenos, bem pequenos, muito grandes.

Nas minhas raras investidas culinárias, assim que a louça começa a se acumular, os pensamentos se encadeiam de forma automática: Meu Deus, como dá trabalho. Quanta coisa. Vou deixar as panelas para amanhã. E então eu organizo a pia e deixo tudo para amanhã.

Se toda ilusão tem um fim, a minha tem três. Durante a semana termina em tapioca. Nos fins de semana, hambúrguer ou pizza. Apesar da lista de compras com indícios de boa vontade, meu forno continua novo e os potinhos vazios. 

Mesmo com esse desempenho triste, de vez em quando a esperança de blogueira fitness ainda vem me visitar. Não quero decepcioná-la. Trocarei o jantar por cerveja, mas já baixei um aplicativo de dieta só pra poder puxar assunto.