Adulto é não ter a quem culpar

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“Minha vida como adulta tem sido um fiasco.” disse uma amiga ontem à noite.

O problema a que ela se referia era o cálculo do imposto de renda, que sempre vinha como surpresa do contador.

Me identifiquei imediatamente, e fui obrigada a repensar o que a palavra adulta significava pra mim.

Chegaria 10 minutos mais cedo.

Lembraria de checar a previsão do tempo e trazer o guarda-chuva.

Meu armário seria dividido por cores.

Na minha imaginação, eu teria terninhos passados e meias finas 3/4.

A adulta que eu imaginei não só cozinharia muito, mas manteria um escorredor de louça vazio, a casa cheirando a bolo no sábado à tarde.

Ela saberia os políticos de cada partido e o sentido das letras em inglês.

Quando eu era pequena, pensava que ser adulto era ter rotina para refeições e excesso de cautela no consumo de açúcar, falar de política e ter certezas.

Estranhamente, quase nada do conhecimento que me parecia intrínseco da idade adulta veio com o tempo.

Eu, que achava que ser adulto era controle, ao virar adulta descobri que ser adulto é liberdade.

É poder escolher a hora de dormir e de acordar, sabendo as consequências de uma noite em claro.

É poder comer o que se quer, ciente de que o colesterol muda conforme a dieta.

É poder se dar ao luxo de poder mudar de trabalho, de ramo, de cidade, de estado civil sem aviso prévio.

Adulto é não ter a quem culpar. É saber que a única pessoa que transformar a sua vida é aquela que você vê no espelho.

Os amigos da infância e da adolescência vêm com a gente pra vida adulta e é graças a eles que eu percebo que está tudo bem.

Comparado com o tempo em que compartilhávamos os uniformes do colégio, nossas vidas agora variam bastante.

De casada com filhos a fugindo de relacionamento estável, nós nos entendemos e nos apoiamos na nossa liberdade.

Ser adulto é julgar menos e ter mais espaço pro amor.

É entender o preço de não pedir permissão e abraçar o inesperado com mais paciência.

É finalmente conseguir olhar para os nossos pais como pessoas e admirá-los por cada sacríficio pela nossa infância.

É entender que o tempo das coisas não nos pertence.

Adultos têm seu próprio jeito de pedir colo: uma ligação pra mãe, uma consulta pra hoje, um abraço no meio da madrugada com aquele sentimento de “que bom, você está aqui.”

O passar dos anos nos permite chorar sem plateia e desenvolver uma relação mais carinhosa com a natureza, com as crianças e com a nossa casa. Enquanto adolescentes adoram sair, adultos adoram voltar.

Quando se trata de carreira, é possível que os títulos tenham perdido um pouco do brilho. Nos vinte, a gente quer crescer rápido. Nos trinta, a gente quer crescer bem.

Por mais que busquemos reconhecimento, a gente sabe bem lá no fundo que bem sucedido é quem é feliz.

Alguns controlam finanças com Excel, outros com débito automático.

Há quem agrupe os holerites, há quem os perca na primeira oportunidade.

Não há fiasco nenhum nisso.

Fiasco seria manter a ilusão de que estamos no controle de tudo e ignorar o milagre diário que é ter saúde e tempo.

Por isso, amiga querida, eu convido você a olhar pra sua vida de adulto sob essa nova perspectiva.

Duvido que você não seja um exemplo.

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