O que não se explica dói também.

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Falo com as que estão se sentindo no poço, no fundo do poço, o limo do fundo.

Falo com quem acordou no meio da noite ligeiramente ofegante, com quem se acabou no vinho tinto ou no Paracetamol, pra quem repetiu pra si mesmo “eu tenho que disfarçar essa minha vontade de chorar” e chorou.

Falo porque talvez vocês não tenham falado muito ultimamente, pelo menos não sobre o que importa.

Ninguém quer espalhar lamento num tempo em que quem tem saúde não tem o que reclamar.

Mas se você tem, a saúde e as mágoas, eu entendo.

A tristeza não vem sempre assim tão racional.

Mesmo quem tem cama, comida e carinho pode não querer comemorar.

Não é sempre, mas tem esses dias que a conta não fecha.

Que a balança pende pro lado contrário, que a gente olha pra falta e enxerga só o buraco.

Vai passar, tá?

Eu não sei quantas séries inúteis a gente vai aguentar, do sofá pro tapete nesses dias repetidos, mas eu sei que vai passar.

A gente ainda vai se abraçar de novo numa volta de aeroporto e rir sem respeitar distância.

A gente ainda vai sentar em 7 numa mesa de 4 depois do trabalho, cochichar no ouvido, festejar, viajar, ver o mar.

Vai dar tempo de achar um emprego, vai dar tempo de ver as crianças crescendo e mimar nossos pais.

2020 talvez seja o mais triste de todos os anos.

Ninguém passou por isso antes, então é normal se você não souber o que sentir.

Fuja de quem não tem empatia pra escutar ou quiser provar por A+B que “vocē não tem motivo para estar assim”.

Você sabe e eu sei:

O que não se explica dói também.

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