As ruas ainda têm os mesmos nomes, mas hoje levam a lugares diferentes.

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Cai sem querer numa coluna do Cacau Menezes. Um quê de bastidores, um quê de verdade e menções elogiosas a pessoas que eu não conheço. Cacau não muda, pensei comigo ao ler o primeiro parágrafo. Pensar no Cacau me fez lembrar de Florianópolis. Fui imediatamente arremessada às memórias da minha infância.

Quando eu era pequena, a Disney era longe demais. Minha noção de paraíso era a Varinha Mágica, uma papelaria na Esteves Júnior, onde todos os meus sonhos de consumo estavam ao alcance: geleca colorida, lapiseiras, cartolinas e penais de lata. Se eu me comportasse muito bem, era possível que eu ganhasse uma cartela de brincos de adesivo depois da aula, ou aqueles estojos cheios de canetinha, compasso e transferidor de aniversário.

Outra possível recompensa em caso de bom comportamento era pedir um lanche no carro no Kais Ki Dum. Lembranças de um tempo mais inocente, enquanto ainda confiávamos na maionese. Sofisticação, para mim, criança, era comer no Aeroflop e admirar o chafariz do ARS.

O centro do mundo ficava na Pracinha do Catarinense, onde podíamos comprar churros com doce de leite e, nos dias mais interessantes, assistir a uma briga de alguém de outra turma. A Pracinha dos Namorados, menos efervescente, tinha uma banca sempre aberta. Talvez minha primeira noção de loja de conveniência venha de lá. Lembro de comprar raspadinhas, turma da Mônica e envelopes de figurinhas nos finais de semana.

Antes da construção do Shopping Beiramar, a impressão que eu tenho é que cada endereço tinha uma função: roupas de inverno no Entrelaços, brinquedos nas Americanas, uniforme do colégio na Andra, mochilas na Company e sorvete no Seu Didi, em frente ao menino Jesus. Chique era morar em apartamento e passar o verão em Canasvieiras.

Eu conheci a Lagoa antes dos hippies e Jurerê antes das celebridades. Na minha adolescência, o sucesso dos shows no LIC era medido pela fila do morro da Lagoa, enquanto as debutantes do Clube Doze revezavam-se nas colunas do jornal. Fui a incontáveis festas no Café Cancun, que virou El Divino, que virou Cash, que virou Seven, e que foi, antes de tudo isso, uma casa abandonada com um grafitti de sorvete com barata. A Ponte Hercílio Luz sempre esteve interditada. Lembro de ir ao Planeta Atlântida e conhecer o Ibiza, que virou X, que virou Stage, e o Google Maps me diz que continua assim.

Em Florianópolis, as ruas ainda têm os mesmos nomes, mas hoje levam a lugares diferentes. Ao mesmo tempo que celebro as novidades, guardo com muito carinho essa cidade aconchegante e divertida que aconteceu há tanto tempo.

Tudo mudou, menos o Cacau Menezes.