Justa causa

Tremer a língua durante meia hora.
Essa foi uma das minhas promessas de réveillon.
Antes que alguém pense besteira, já adianto:
não é nenhuma dica do sexo tântrico,
mas o tratamento para o meu calo nas cordas vocais.
Simples assim.
Colocar a língua no céu da boca e fazê-la vibrar por meia hora.
Em três meses, o problema está resolvido. 
Parece fácil, né? Também achava.
Hoje penso diferente.
Tremer a língua? Impossível.
Em dois minutos eu cansei e já estou quase

me conformando em conviver com o calo.

Esqueço, canso, esqueço, esqueço, esqueço.
Os dias vão se amontoando e o calo cada vez maior.

Juro que não entendo.
A recompensa é valiosíssima,
o esforço é mínimo e mesmo assim 
eu insisto em ser tão negligente.

Parei para pensar nas minhas outras promessas
e percebi que quase todas são do mesmo jeito.
Academia, blog, menos Face e mais Book…
nada impossível, tudo irritantemente acessível até.
O problema é a tal da indisciplina,

que transforma qualquer cubo de gelo em iceberg.

A parte que me dá mais raiva é saber que se tremer a língua 
estivesse no meu contrato de trabalho,
eu jamais ia deixar passar. 
Se alguém da minha equipe estivesse dependendo disso, 
eu já teria resolvido há tempo.
Mas como é pra mim mesma, eu deixo. 
No “amanhã eu começo” já se passaram quatro anos.

Sou obrigada a admitir que sou uma péssima funcionária de mim mesma.
Mereço demissão por justa causa.

E digo mais:

Estou pensando em contratar o calo. 
Ele é tão dedicado…

1 Comments

  1. Minha querida Sarinha! Que lindo! Adorei a delicadeza como colocas as palavras… Parabéns, camarada de profissão! 🙂 Muita sorte pra ti… 🙂 Beijos com saudades. Camila Jardim

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